sábado, 23 de junho de 2012

Quarto de menina





Eu queria ser uma menina dentro de um quarto cor de rosa com paredes cheias de quadros coloridos, cortinas de borboleta e com um armário lilás. Meus livros seriam de capas brilhantes, minhas gavetas teriam papel de bala e calcinhas de algodão com desenhos fofos. Meu mural de amigos sempre teria alguém com uma tarja preta bem no meio da cara, e depois de um tempo eu iria tentar limpar com alguma coisa que me dissessem que resolveria essas bobagens que fiz e quem sabe o mural ficaria ali por mais algum tempo.
Meu edredom azul de flor amarela teria cheiro de sonho, e por isso eu iria gostar tanto de ficar embaixo dele. Meus discos estariam sem capa, e algumas capas nem teriam mais discos.
Eu iria tirar foto de mim mesma e publicar para o mundo todo ver o quanto eu pareço feliz sozinha.
Eu comeria tantas bobagens eu tivesse vontade, eu ficaria horas embaixo do chuveiro só para chorar pensando no quanto fui idiota por ter feito mais uma vez aquela coisa que sei que não deveria ter feito, mas fiz.
Eu ligaria para alguém me consolar, e desligaria o telefone antes de atender. E se meu telefone tocasse, eu nunca atenderia nem que o pobre aparelho implorasse ou explodisse.
Eu arrumaria algumas coisas por ali, tiraria algumas roupas horríveis que nunca me serviram para nada, reviraria gavetas e descartaria brincos, cintos, pessoas e sonhos. Mas certamente não jogaria nada fora, só afundaria ainda mais essas coisas ou quem sabe as trocaria de lugar, e elas permaneceriam ali, escondidas, mas ali. Como tantas coisas que trago em mim.
Eu comeria uma barra de chocolates e tudo ia ficar bem, certa de que tudo é uma farsa, que nada é para sempre, e por mais que eu me esforce eu nunca vou entender o porquê que a gente tem que gostar logo é de gente. Eu queria mesmo era ser mais inteligente.

Para quem leu: Eu te beijo.

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